A Cruzada das Crianças, também conhecida como A Cruzada dos Inocentes, é um episódio da Idade Média que mistura fantasia e realidade. Teria por objetivo converter muçulmanos e tomar de volta a Terra Santa.
Para justificar as derrotas anteriores, difundiu-se a lenda de que o Santo Sepulcro só poderia ser conquistado por crianças, pois estas estariam isentas de pecados, sendo assim protegidas por Deus. Na lógica medieval, Deus não parecia disposto a ajudar as tropas comandadas por nobres pecadores, usurpadores e impuros.
A Cruzada das Crianças foi liderada por um menino que queria se juntar a adultos defendendo a Cristandade durante a tumultuada Idade Média. Em 1212, após uma série de milagres, juntou um considerável grupo de seguidores, incluído possivelmente cerca de 20 mil crianças. Conduziu os seus seguidores em direção ao mar Mediterrâneo, onde as águas deveriam abrir-se para que pudessem avançar até Jerusalém. Como isto não aconteceu, dois mercadores teriam oferecido sete barcos para levar tantas crianças quantas coubessem. As crianças foram então levadas para a Tunísia onde foram vítimas de naufrágio ou acabaram por serem vendidas como escravas. Em alguns relatos, as crianças não teriam nem mesmo chegado ao Mediterrâneo, morrendo no caminho de fome ou exaustão.
Certamente parece uma história fascinante, especialmente para os leitores modernos interessados na história medieval. Porém, todas as evidências sugerem que a Cruzada das Crianças jamais ocorreu.
Como muitas vezes acontece na história, a origem precisa dessa lenda não é conhecida, uma vez que o suposto evento ocorreu há muito tempo. No entanto, uma vez que fontes suficientes disseminaram a história e afirmaram a sua autenticidade, as pessoas compraram a isca, e geralmente concordaram que ocorreu, de fato, uma Cruzada liderada por um menino pastor motivado que afirmava ter recebido visões de Deus. Os supostos milagres que facilitaram a passagem para o Oriente Médio deveriam ter sido uma dica de seu caráter lendário, mas aparentemente as pessoas estavam ansiosas para acreditar na ideia da Cruzada das Crianças. Foi apenas no final do século 20 que os historiadores decidiram estudar a história a fundo.
A Cruzada das Crianças, por Gustave Doré (1832-1883)
No primeiro movimento, Nicholas, um pastor alemão de apenas 10 anos de idade conduziu um grupo através dos Alpes até a Itália na primavera de 1212. Cerca de 7 000 chegaram a Gênova no final de agosto. No entanto, como as águas do Mediterrâneo não se afastaram para que passassem como prometido, o grupo separou-se. Alguns regressaram para casa, outros dirigiram-se para Roma e outros para Marselha onde provavelmente foram vendidos como escravos. Poucos conseguiram regressar as suas casas e nenhum chegou à Terra Santa.
O segundo movimento foi conduzido por um "jovem pastor" chamado Estêvão de Cloyes. Estêvão tinha apenas 12 anos. Era analfabeto e ajudava a família cuidando de cabras em Cloyes, no norte da França. Em maio de 1212 foi até Saint Denis, onde o rei Felipe Augusto havia se instalado, para entregar-lhe uma carta. O menino dizia que Jesus em pessoa lhe pedira para liderar uma nova cruzada contra os muçulmanos. A essa altura 30 mil pessoas o seguiam.
Não se sabe se Felipe recebeu o menino e é provável que ele sequer tenha lido a tal carta. Sabe-se porém que o monarca ficou intrigado com a pregação do pequeno pastor e, como não tinha certeza do que fazer com ele, mandou consultar os acadêmicos da Universidade de Paris. A resposta foi sábia: o rei deveria mandá-lo de volta para casa. E assim o fez. Essa história está documentada e consta dos textos dos principais cronistas da época, entre eles Vincent de Beauvais e Roger Bacon.
Juntas, essas procissões teriam reunido cerca de 40 mil pessoas, segundo os textos medievais, mas a maioria dos especialistas acredita que é exagerado.
Malcolm Barber, da Universidade de Reading, Inglaterra
Posteriormente os cronistas fantasiaram estes dois eventos. Investigações modernas revelaram que os participantes não eram sequer crianças. No início do século XIII, surgiram várias migrações de pobres por toda a Europa, motivadas pelas mudanças nas condições econômicas da época que forçaram muitos camponeses no norte da França e na Alemanha a vender as suas terras. Estes bandos eram chamados condescendentemente de pueri (meninos, jovens, crianças em latim). Mais tarde as referências ao puer alemão Nicholas e ao puer francês Stephan, ambos liderando multidões em nome de Jesus, foram unificadas num único relato, tendo o termo pueri sido traduzido, erroneamente, como crianças.
A história da Cruzada das Crianças é um exemplo fascinante das maneiras pelas quais a história pode ser mal interpretada, e é uma lição sensata. Você deve sempre verificar as fontes para suas informações sobre um evento histórico não importando se aconteceu há 2.000 anos ou na semana passada, porque um único erro de impressão ou de tradução pode ser rapidamente disseminado e pode durar séculos.
Fontes: Wisegeek e Wikipedia
A história da Cruzada das Crianças é um exemplo fascinante das maneiras pelas quais a história pode ser mal interpretada, e é uma lição sensata. Você deve sempre verificar as fontes para suas informações sobre um evento histórico não importando se aconteceu há 2.000 anos ou na semana passada, porque um único erro de impressão ou de tradução pode ser rapidamente disseminado e pode durar séculos.
Fontes: Wisegeek e Wikipedia
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